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Bigfett: o brasileiro que saiu do quarto geek para o palco do Tomorrowland

Bigfett é o nome por trás da jornada geek que alcançou o Tomorrowland. Veja como sua paixão por música o levou ao topo.

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Créditos: Divulgação

Exclusivo – Se você acha que a trajetória de um artista da música eletrônica começa na pista de dança, talvez seja hora de rever seus conceitos. No caso de Bigfett, tudo começou no quarto. Foi em um quarto geek, repleto de influências nerds, cultura gamer, muita criatividade e curiosidades. Dali saiu Davi Cardoso, um jovem de Recife que, aos poucos, trocou o controle de videogame pelos sintetizadores e hoje vê suas músicas ecoarem nos maiores palcos do planeta, como o Tomorrowland Brasil.

“O nome Bigfett era meu nickname de jogo quando eu era pivete… eu curtia muito o Boba Fett, de Star Wars. A galera confunde com ‘pé grandeʼ, mas é de Fett, com dois “tˮ mesmo”, explicou o artista, rindo. O projeto nasceu oficialmente em 2020, mas suas raízes são bem mais profundas. Antes da carreira solo, Davi fazia parte de um duo com o irmão, voltado ao progressive house. Em sua transição, chegou a testar o tech house, mas percebeu que o emocional e o melódico sempre falaram mais alto.

“Fiquei uns seis meses tentando fazer tech house, mas falei: ‘mano, isso não é pra mimʼ. Gosto da pancada, mas eu preciso de melodia, de sentimento. Quando voltei pro lado mais melódico, as coisas fluíram como respirar.” Essa fluidez o levou até a gravadora Steyoyoke, na Alemanha. Após enviar sua primeira faixa, o selo pediu mais três — um sinal claro de que ele havia encontrado o caminho certo. A partir daí, Bigfett passou a figurar em gravadoras como Armind, Rose Avenue e Tomorrowland Music, sendo tocado por nomes como Armin van Buuren, Artbat, Agents of Time, Innellea, Miss Monique, entre outros.

E o reconhecimento não parou aí. No palco do Tomorrowland Brasil, em 2023, ele realizou um sonho de infância: “Foi o festival que me levou a curtir música eletrônica. No dia do meu set, eu tava muito nervoso… quase apertei o botão de cue sem querer. Mas quando virei a segunda track, entrei no jogo”.

No capítulo seguinte, vamos mergulhar em como Bigfett construiu conexões com os maiores artistas do mundo e como uma abordagem humanizada abriu portas que e-mails jamais conseguiriam. Se você está começando na cena ou apenas admira boas histórias, prepare-se: essa escalada é feita de suor, fé e estratégia.

Créditos: Divulgação

O som que nasceu da melodia: do progressive à identidade Bigfett

A história musical de Bigfett não começa com sucesso imediato. Começa com dúvida, experimentação e — acima de tudo — escuta. Depois de encerrar o projeto com o irmão,Davi se viu diante de uma tela em branco. Testou o tech house, que era tendência na época, mas sentiu que algo estava fora do lugar.

“Eu gosto da ‘safadezaʼ do tech house, mas gosto mais ainda da pancada melódica, do sentimental. Quando produzo nesse estilo, tudo flui naturalmente. Parece que tô respirando.” – comentou Davi

Foi então que decidiu seguir a sua intuição e voltar às origens melódicas que sempre o moveram. A primeira tentativa séria no estilo o levou à Steyoyoke, selo alemão conhecido por revelar talentos do melodic techno. Ele lembra: “Mandei uma track, e os caras pediram mais três logo de cara. Ali eu senti: é esse o caminho”.

Essa guinada artística revelou uma assinatura sonora que mistura referências do progressive, EDM e trance com a força percussiva do techno. Mais do que um som, Bigfett estava construindo uma identidade — e essa identidade chamaria a atenção de nomes gigantes nos meses seguintes.

O salto do estúdio para o palco: do nervosismo à consagração

A transição do estúdio para os palcos pode ser desafiadora até para artistas experientes — e com Bigfett não foi diferente. Antes de estrear nos grandes festivais, ele já havia tocado em eventos menores, como festas em Recife com público de 300 a 400 pessoas. Mas nada poderia prepará-lo para o impacto de uma apresentação diante de milhares. “No começo eu era durão no palco. Mal conseguia olhar pra galera, muito menos interagir. Hoje sou outro cara, danço, me jogo, vivo o set com o público.” comenta o artista.

Sua primeira grande apresentação aconteceu em uma festa da Mottus, onde dividiu o line-up com artistas internacionais como Colyn e Mathame. Foi ali que ele sentiu o peso e a responsabilidade de representar o Brasil num palco dominado por nomes gringos — e percebeu que precisava crescer rápido.

Créditos: Divulgação (Bigfett se apresentando no Tomorrowland Brasil 2023)

Mas o ponto de virada emocional veio no Tomorrowland Brasil 2023. “Foi o festival que me fez amar a música eletrônica.”

No dia, mesmo com o nervosismo, o público respondeu com energia surpreendente. Em menos de 30 minutos, o palco estava lotado. Bigfett lembra da virada de chave no set: “Quando virei a segunda track, entrei no jogo. Era como se fosse um passe no futebol. Depois disso, tudo fluiu”. Ele ainda completou: “No dia, eu estava travado de nervoso. Lembro que quase apertei o botão de cue no final, durante o mashup com o Chorão. Por pouco não apaguei tudo.” comentou Davi.

O festival não só o marcou pessoalmente, como consolidou a sua presença na cena. A partir dali, as portas se abriram de vez para colaborações, novos lançamentos e uma crescente conexão com o público — tanto no Brasil quanto no exterior.

Créditos: Divulgação (Bigfett tocando no Ame Club)

Suportes de peso e conexões que abrem portas

Ter sua música tocada por grandes nomes já é uma conquista. Ser chamado por eles para colaborações é outro patamar. E foi exatamente isso que aconteceu com Bigfett. A track “Collide“, lançada pela gravadora dos Agents of Time, não só surgiu de um convite direto do duo, como se tornou um hino entre os fãs do artista. “Foi o Andrea, do Agents, quem me chamou pra collab. Eu já mandava músicas para ele, e um dia ele falou:  ‘mano, vamos de collab pra estreitar os laços’. Isso veio deles, não de mim — e isso tem um peso gigante.”

Outros nomes como Kevin de Vries, Armin van Buuren, Artbat e Miss Monique também passaram a apoiar ativamente os seus lançamentos. Mas engana-se quem pensa que isso aconteceu por acaso. O artista investiu em uma estratégia menos convencional: em vez de enviar demos frias para selos, ele priorizou construir relacionamentos com os artistas. “A gravadora recebe milhares de faixas. Eu sempre preferi criar um vínculo antes, conhecer o dono, trocar ideia. Assim, quando você manda algo, a pessoa escuta com atenção.” Essa abordagem humanizada abriu portas para gravadoras como Armind, Simulate e Tomorrowland Music, além de selos alternativos que passaram a valorizar a sua originalidade. O resultado? Tracks como “Crashing Down“, feita com Kevin de Vries e vocais de Frynn, que emocionou plateias no AME e em outras gigs internacionais.

Criando sem se render: autenticidade versus mercado

A indústria da música eletrônica é dinâmica. O que hoje é tendência, amanhã pode ser obsoleto. Nesse cenário em constante mutação, Bigfett escolheu seguir um caminho difícil, mas essencial: manter a sua autenticidade sonora sem ignorar as transformações do mercado. “A gente tem que manter a essência, mas também não pode fechar os olhos pro mercado. Senão você fica pra trás.” comentou Bigfett. 

Mesmo com o melodic techno perdendo parte do protagonismo de 2023 e 2024, ele nunca abandonou a base emocional que define as suas composições. Mas isso não significa rigidez. Pelo contrário: ele tem explorado nuances de indie dance, tech house e até linhas mais grooveadas, mantendo sempre a fluidez melódica como centro gravitacional.

Essa versatilidade não é apenas criativa — é estratégia. Como ele mesmo diz, “a música precisa respirar e evoluir, mas nunca perder a almaˮ. E é nessa busca constante por equilíbrio que Bigfett mantém a sua relevância, atraindo tanto os fãs quanto os olhares atentos de curadores e selos ao redor do mundo.

A música que transforma: altos, baixos e lições de persistência

Nem todo momento de um artista é feito de luzes e aplausos. Por trás de cada faixa lançada e cada palco lotado, existem momentos de dúvida, silêncio e resistência. No caso de Bigfett, essa caminhada foi marcada por decisões difíceis, nãos constantes e a coragem de manter sua identidade musical mesmo quando o mercado apontava para outras direções. “Recebi muito não no começo. As gravadoras queriam um som mais introspectivo, e o que eu fazia era mais emotivo, mais aberto, mais festival. A Gabriela, minha namorada, chegou a me perguntar: ‘Você vai se render ao mercado ou vai confiar que o som vai evoluir pro que você faz?'”

Ele escolheu confiar. Mesmo quando ninguém ouvia as suas demos. Mesmo quando o algoritmo parecia ignorá-lo. E foi exatamente essa teimosia criativa que preparou o terreno para os suportes de peso que viriam a seguir. Kevin de Vries foi o primeiro a dar visibilidade — e o impacto foi tão grande que Bigfett lembra com emoção: “Eu chorei. Eu tava num dia péssimo, chuvoso, e aí vi ele tocando a minha track. Ali eu entendi: tô no caminho certo.” Desde então, os suportes não pararam. Vieram Innellea, Adam Sellouk, Artbat, Armin van Buuren, entre outros. Mas, mais do que isso, veio um novo olhar. Um reconhecimento de igual para igual.

“Hoje esses caras me tratam como brother. Parece que tô na mesma prateleira. Claro, eles são gigantes, mas o respeito é mútuo.” A virada emocional aconteceu não com um hit, mas com uma construção. Bigfett não acredita em “um momento mágico”, e sim em uma escadinha: um passo de cada vez, com consistência, autenticidade e presença. E, com isso, o garoto geek do quarto virou o artista que cruza oceanos para tocar. Que se emociona quando vê o público em êxtase com as suas músicas. Que recebe um “bem vindo à famíliaˮ dos ídolos que, um dia, pareciam inalcançáveis. “É louco atravessar o mundo por causa da música. Teve uma vez que eu tava na Índia, tocando com Adriatique e Brina Knauss… e ouvi: ‘você é um de nós’. Eu não boto fé até hoje.” comentou Bigfett com um grande sorriso. 

Créditos: Divulgação

De Recife para o mundo: o artista que virou referência

Quando Bigfett fala sobre sua trajetória, é impossível não perceber o quanto sua caminhada é marcada por consistência, visão e emoção. Não foi uma única track que o lançou ao estrelato, nem um golpe de sorte. Foi uma construção, degrau por degrau, marcada por momentos emblemáticos — como a track “Everything Is Energy“, lançada pela Running Clouds, que virou queridinha de nomes como Tale Of Us, Innellea e Øostil. “Essa track abriu muitas portas. Muita gente começou a me procurar depois disso.”

O reconhecimento internacional se tornou uma constante. De festivais na Índia a clubs na Argentina e Europa, Bigfett começou a rodar o mundo com seu som. E, mais do que isso, passou a ser reconhecido como parte da cena — não como um outsider, mas como alguém que pertencente entre os grandes da cena.

Essa sensação de pertencimento, que antes era apenas um sonho distante, hoje é realidade. Seja tocando ao lado de gigantes ou sendo escalado em festivais ao redor do globo, Bigfett carrega consigo não apenas seu som, mas uma narrativa de persistência, identidade e humanidade.

E, talvez por isso, ele inspire tantos outros artistas — mostrando que, sim, é possível sair de um quarto em Recife e chegar aos palcos mais importantes do mundo sem abrir mão de quem se é.

Créditos: Divulgação (Bigfett no Village Artist do Tomorrowland Brasil 2023)

Lições de uma jornada: entre quedas, conquistas e visão de futuro

Nem tudo são aplausos, collabs e palcos cheios. Por trás da ascensão meteórica de Bigfett, existe uma jornada marcada por dúvidas, nãos e resiliência. Em muitos momentos, ele cogitou parar. “No início, ninguém dava moral. Era só porta fechadaˮ, relembra. A persistência foi o que o manteve de pé. Mesmo sem apoio imediato das gravadoras, escolheu não se render às exigências do mercado. Manteve sua sonoridade melódica, apostando que o cenário eventualmente se alinharia ao seu som — e foi exatamente o que aconteceu. Cada suporte gerava outro. Como ele mesmo define: “É uma escadinha. Às vezes você sobe um degrau de cada vez. Outras vezes, você consegue pular dois. Mas o crescimento é uma construção contínuaˮ

Essa validação impulsionou uma cadeia de oportunidades. Artistas como Innellea, Agents of Time e Artbat passaram a tocar suas faixas. Entre os momentos mais marcantes, Bigfett cita o Tomorrowland Brasil, as primeiras gigs internacionais e o acolhimento da cena global — especialmente no Zamna India, onde foi recebido por lendas como Adriatique e Brina Knauss. “Ali percebi que eu não era mais só fã. Eu era parte da família.ˮ Com os pés no chão e olhar atento às mudanças, Bigfett também reconhece a importância de enxergar o mercado como negócio. A música, para ele, não é só arte: é estratégia, é branding, é saber se posicionar. E nesse ponto, ele credita parte de sua virada à parceira de vida e carreira, Gabriela: “Ela me ensinou que não basta fazer música boa. Você precisa saber colocar sua música no mundoˮ.

Hoje, ao olhar para trás, Bigfett reforça o que diria para o Davi do passado — e para todos os artistas que estão começando: “Acredite em você. Tudo começa dentro da sua mente. E não se feche para o mercado: aprenda como ele funciona. A autenticidade abre portas, mas o relacionamento as mantém abertas.ˮ

Uma mente criativa moldada pela coragem

A história de Bigfett não é apenas sobre um artista que chegou ao topo. É sobre um jovem que transformou sua bagagem geek em potência criativa, que trocou a solidão do estúdio pela energia dos palcos internacionais, e que entendeu que fazer música vai muito além de produzir faixas incríveis. Sua trajetória revela que autenticidade, estratégia e relacionamento humano são os verdadeiros pilares de uma carreira sólida na música eletrônica. Não existe fórmula única — mas há escolhas que fazem toda a diferença.

Créditos: Divulgação

Ao se manter fiel à sua essência, mesmo quando o mercado apontava para outro caminho, Bigfett não apenas sobreviveu: ele construiu um legado em andamento. Um projeto que inspira, conecta e mostra que o sucesso pode — e deve — vir do coração.

Se você chegou até aqui, talvez também carregue o desejo de viver da sua arte. E a jornada de Bigfett deixa uma mensagem clara: “Não espere ser descoberto. Descubra você mesmo. E mostre ao mundo do que você é feito.”

Quer acompanhar de perto os próximos passos do artista?

Siga o @bigfett_ofc e conheça o trabalho da equipe por trás dessa construção em @coral360.art.

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