Papo de Produtor
De Tetris a Cyberpunk: como os games impulsionaram a música eletrônica
A música eletrônica e os games andam lado a lado desde os anos 80, quando o Tetris lançou sua trilha simples e hipnótica. De lá pra cá, a evolução foi gigantesca, culminando em universos futuristas e eventos virtuais que redefinem como sentimos as faixas eletrônicas dentro de um jogo.

LEVEL 1: Press Start — A História Dessa Conexão Programada
Pense rápido: qual foi a primeira trilha sonora de videogame que marcou você? Se surgiu algo com sintetizadores e loops intensos, não é mera coincidência: videogames e música eletrônica sempre caminharam juntos. Nos anos 80, as limitações dos consoles forçaram desenvolvedores a criarem sons sintetizados, eternizando melodias como a de Tetris, que ia ficando cada vez mais frenética à medida que os blocos aceleravam. Em Street Fighter II, cada personagem tinha seu próprio tema, e um dos primeiros a se inclinar fortemente às batidas eletrônicas foi o de Vega.
Foi nos anos 90 e 2000, porém, que essa fusão decolou. Títulos como Wipeout 2097 não só trouxeram música eletrônica para dentro do jogo, mas serviram como porta de entrada para artistas como The Prodigy, Underworld e Leftfield, levando o clima de rave para dentro dos consoles. Hoje, é impossível dissociar certos gêneros de game desse tipo de som: a trilha sonora é parte essencial da identidade e do clima que cada missão, corrida ou batalha traz.
LEVEL 2: High Score — Os Jogos Que Definiram Essa Parceria
Passando para as eras de corridas em alta velocidade, podemos dizer que nada combina melhor com adrenalina do que faixas eletrônicas alucinantes. Durante os anos 2000, jogos de corrida abraçaram esse gênero e criaram um verdadeiro “templo” sonoro para o público.
Em Need for Speed: Underground 2 (2004), o cenário urbano e a pegada hip-hop se misturavam a batidas eletrônicas, entregando uma trilha única para quem vivia os rachas noturnos. O remix “Riders on the Storm”, de Snoop Dogg com The Doors, virou hino absoluto do jogo. Já em Wipeout 2097 (1996), houve um marco real na relação entre música eletrônica e games, pois o projeto foi amplamente apoiado pela cena rave britânica, trazendo nomes de peso como The Prodigy, Chemical Brothers e Orbital, criando uma experiência impossível de comparar aos jogos tradicionais. Se formos falar de velocidade intensa e trilhas futuristas, ainda cabe destacar F-Zero X (1998), que fez história na Nintendo ao misturar ritmos frenéticos e pistas de ambientação sci-fi.
Quando se trata de universos cyberpunk, o casamento entre jogos e música eletrônica se torna ainda mais óbvio. Em títulos como Cyberpunk 2077 (2020), a trilha uniu artistas do calibre de Deadmau5, Nina Kraviz, Grimes e Refused, e levou o conceito de “futuro caótico” a um patamar quase palpável. Nina Kraviz, inclusive, não se limitou a compor músicas: ela aparece como personagem dentro do próprio jogo. E não podemos esquecer de Hotline Miami (2012), cujo visual neon e violência estilizada foram acompanhados por sonoridades de Carpenter Brut, Perturbator e M.O.O.N., descobertas meio que por acaso no SoundCloud, mas que deram toda a cara do game. Em Mirror’s Edge (2008), a trilha a cargo de Solar Fields adicionou um toque de ambient eletrônico perfeito para as corridas nos topos dos prédios.
Existem ainda aqueles jogos em que a música não é só coadjuvante, mas o elemento principal. Beat Saber (2018) revolucionou a forma de interagir com a música através da realidade virtual, transformando faixas em puro movimento corporal. A comunidade foi além e criou mods para tocar qualquer música, ampliando a imersão ao infinito. Em Rez Infinite (2016), inspirado em experiências psicodélicas e sinestesia, a proposta é praticamente mergulhar em um transe audiovisual.
LEVEL 3: O Chefão — DJs Que Criaram Músicas para Games
Enquanto os games podem catapultar faixas eletrônicas ao status de hinos cult, também há o caminho inverso: grandes nomes da cena assinam trilhas originais para jogos. Deadmau5 criou faixas para Cyberpunk 2077 e Rocket League, Skrillex marcou presença no universo de Kingdom Hearts 3 em parceria com Utada Hikaru, e Marshmello foi além ao promover um show ao vivo dentro de Fortnite, redefinindo por completo o conceito de festival digital. Já o trio Noisia arrematou de vez as batalhas de Devil May Cry 5, deixando a ação ainda mais explosiva.
LEVEL 4: O Futuro — Para Onde Essa Fusão Pode Evoluir?
É seguro dizer que a relação entre games e música eletrônica está longe de esgotar suas possibilidades. Algumas tendências apontam para festivais virtuais (alô Fortnite?) que podem se tornar gigantescos, a implementação de trilhas sonoras 100% dinâmicas, geradas por Inteligência Artificial e, claro, o avanço da realidade virtual, transformando os jogadores em verdadeiros partícipes de uma sinestesia digital.
Poderemos, em breve, ver um Tomorrowland rodando em algum servidor de GTA Online? Talvez. O futuro parece aberto a integrações inimagináveis — e, dada a velocidade das mudanças, essa fusão entre som e pixels pode evoluir ainda mais rápido do que esperamos.
E Agora? O Game Continua…
Chegou a hora de você dar o próximo “start” nessa conversa. Qual jogo trouxe a trilha eletrônica mais memorável pra você? Se pudesse escolher um DJ pra criar a OST de um game AAA, qual seria? E, será que as trilhas orquestradas algum dia vão perder espaço pra batidas e sintetizadores? O mais legal é que não há resposta definitiva: cada player e cada dev vão ditar o rumo dessa história. Afinal, quando o assunto é inovação, games e música eletrônica sempre combinaram perfeitamente.