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De Daphne Oram e Delia Derbyshire até hoje: o poder da mulher na música eletrônica mundial

As mulheres na música eletrônica deixaram de ser coadjuvantes para se tornarem protagonistas. Neste artigo, revisitamos a trajetória de pioneiras como Daphne Oram e Delia Derbyshire, até as produtoras atuais que redefinem gêneros como house, techno e drum & bass.

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Créditos: Mirrorpix - Delia Derbyshire no BBC Radiophonic Workshop em Londres, em 1970

Quer descobrir quem realmente iniciou essa história?

Quando falamos nos primórdios da música eletrônica, é comum lembrarmos de nomes como Pierre Schaeffer, Pierre Henry, Brian Eno, entre outros. Contudo, poucas pessoas sabem que antes mesmo de Bob Moog criar seu primeiro sintetizador, Daphne Oram havia criado seu Oramics em 1957.

Historicamente, sabemos que o patriarcado, entre as décadas de 1930 e 1970, foi o responsável por impedir o acesso das mulheres a muitos direitos, como o voto, o estudo e, ainda mais, os empregos qualificados.

Ser mulher em qualquer lugar é um desafio, mas isso se torna ainda maior em um mercado onde a predominância masculina sempre foi gigantesca. Hoje, vemos muitas mulheres na cena eletrônica, produzindo, tocando ou criando conteúdos, mas e antes disso? Agora, vamos recapitular algumas que foram essenciais para a criação, desenvolvimento e sustentação da música eletrônica como conhecemos hoje.

Créditos: Daily Herald Archive/National Science and Media Museum/

Daphne Oram: a revolução que você não esperava

Fundadora do que veio a ser um dos maiores centros de inovação eletrônica do mundo, o Radiophonic Workshop da BBC. Daphne também compôs Still Point, considerada a primeira peça que combinava música acústica orquestral com manipulação eletrônica ao vivo.

Além disso, ela também criou o Oramics, um equipamento para criação musical baseada no sistema denominado Graphical Sound.

Delia Derbyshire: a origem do tema mais icônico da TV

Muito conhecida pelos fãs de Doctor Who, Delia Derbyshire foi quem criou a música tema da série, sendo a primeira do gênero eletrônico a aparecer na TV.

Além disso, Delia trabalhou cerca de 11 anos na BBC, somando quase 200 programas de TV e rádio na Radiophonic Workshop.

Créditos: Leonard M. DeLessio/Corbis

Wendy Carlos: a pioneira que transformou o Moog

Ela foi uma das pioneiras no uso de sintetizadores, além de contribuir para o desenvolvimento do sintetizador Moog, pesquisando tecnologias eletroacústicas.
Wendy também foi uma das precursoras do synthpop, new age e ambient.

Créditos: Divulgação

Como as mulheres moldaram do house ao techno: será que você conhece todas?

Além de contribuírem para o desenvolvimento da música eletrônica no geral, algumas personagens femininas ajudaram a moldar o gênero que pertencem.

O house, como vimos aqui, nasceu nos anos 1980, em Chicago, e sempre teve uma forte presença feminina. Artistas como Ceybil Jefferies, Crystal Waters e Kim English deram voz a grandes clássicos da vertente, enquanto produtoras, como Honey Dijon, continuam a elevar o gênero.

De origem estadunidense e majoritariamente masculina, o techno também teve mulheres presentes desde o seu início. Kelli Hand (K-Hand) foi pioneira na cena em Detroit e uma das primeiras a ser reconhecida como DJ e produtora na cena underground. Mais tarde, nomes como Ellen Allien e Miss Kittin ajudaram a moldar o techno europeu. Hoje, Charlotte de Witte, Amelie Lens, Nina Kraviz, Camila (Duo Binarhy) e ANNA dominam os grandes palcos do gênero.

Apesar do drum and bass ser um gênero historicamente dominado por homens, as mulheres desempenharam papéis fundamentais no drum and bass. DJ Storm e Kemistry (dupla que fez parte do selo Metalheadz de Goldie) foram pioneiras e ajudaram a popularizar o gênero no Reino Unido. Atualmente, artistas como Mantra, Flight e DJ Rap continuam a influenciar o cenário.

Hoje, o hard techno e o industrial contam com um número crescente de mulheres na linha de frente. VTSS, Sara Landry, AIROD, Fatima Hajji e SPFDJ são alguns nomes que têm conduzido o som pesado e acelerado do techno.

O electro e o synth-pop dos anos 1970 e 1980 contaram com a presença marcante de Laurie Anderson, Cosey Fanni Tutti (do Throbbing Gristle) e Lisa Loud. Essas artistas desafiaram os padrões da música eletrônica e criaram novas possibilidades sonoras.

Foto: Divulgação

A dificuldade de reconhecimento no meio dominado por homens

A indústria da música eletrônica, assim como outras, historicamente favoreceu o público masculino. O reconhecimento para mulheres que atuam na cena — como DJs, produtoras, engenheiras de som ou criadoras de conteúdo — sempre foi um desafio, repleto de preconceitos e falta de oportunidades.

Algumas das principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres da cena incluem:

  • Line-ups dominados por homens: festivais e clubes priorizavam artistas masculinos, excluindo as mulheres.
  • Crédito pela produção musical: muitas vezes se questiona se elas realmente criam suas faixas ou dependem de assistentes.
  • Sexismo e assédio: artistas e público feminino lidam com assédios constantes em festas, clubes e festivais.

Mesmo com os desafios enfrentados, a luta por equidade vem trazendo mudanças. Movimentos como “Equalizing Music” e “Keychange” atuam para promover a diversidade nos line-ups e garantir que mais mulheres tenham espaço na cena.

Além disso, com a ascensão de plataformas como SoundCloud, artistas independentes têm mais autonomia e espaço para divulgar seus trabalhos sem depender de grandes nomes da indústria.

Créditos: Reprodução (Camila Giamelaro - Binarhy)

O futuro da música eletrônica é feminino

Como vimos, a música eletrônica passou por transformações expressivas, e a presença de mulheres se torna cada dia mais forte. Embora ainda haja resquícios de um cenário predominantemente masculino, há um movimento crescente para mudar essa realidade. Hoje, elas não apenas ocupam palcos, mas reformulam gêneros e influenciam novas gerações.

A cena muda, e para melhor

A inclusão de mulheres na música não é um caso isolado, mas algo que se fortalece a cada ano. Festivais e clubes se mobilizam para garantir line-ups diversos, resultando em um público mais engajado com as artistas.

Projetos como Keychange incentivam o equilíbrio de gênero nos festivais, enquanto coletivos femininos se espalham pelo mundo. Ainda assim, a batalha não acabou.

Créditos: @gabimendoncar

O papel da mídia e da comunidade na valorização de artistas mulheres

Os veículos de comunicação especializados em música eletrônica tem um papel essencial na valorização das artistas. Durante muito tempo, os holofotes estiveram voltados apenas para os DJs e produtores masculinos. Hoje, a imprensa tem o poder de destacar talentos femininos e contar suas histórias.

A comunidade eletrônica também tem seu papel. Os fãs podem contribuir diretamente consumindo conteúdos produzidos por mulheres, e aqui gostaria de citar alguns nomes e veículos importantes para a cena brasileira que são comandados por mulheres: We Go Out, Technera Memes, Tudo Pela EDM, Following Festivals, Gabi Mendonça, Isa Cabral (nossa creator do EDM) entre outros.

Além disso, a participação do público nos eventos com atrações femininas gera um impacto positivo significativo no comportamento da indústria, incentivando os produtores e curadores de eventos a abrirem mais espaço para elas.

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