Cemnect with us

DropZone

Como a nova geração está perdendo a conexão com a música eletrônica das gerações passadas

Como as gerações Millennial e Z moldaram o consumo da música eletrônica, e como a nova geração começa a descobrir esse universo nos dias atuais

Publicado

em

Créditos: Caio Versolato

Hoje em dia, a música eletrônica está presente de forma sutil, porém constante, no cotidiano das pessoas. Ela aparece em trilhas sonoras de filmes, séries, desenhos animados e, principalmente, nas redes sociais. Mas, apesar de estar mais acessível do que nunca, a relação da nova geração com a música eletrônica é bem diferente daquela vivida pelos Millennials e pela Geração X.

A era da descoberta vs. O consumo relâmpago

Enquanto as gerações passadas buscavam a música eletrônica nas pistas de dança, nos clubes underground e em grandes festivais, a Geração Alpha e parte da Geração Z estão descobrindo o gênero de forma fragmentada, rápida e menos imersiva. A cultura do streaming e das redes sociais criou um consumo relâmpago, onde os drops virais duram segundos e faixas são apenas trilhas para coreografias ou memes.

Geração Alpha: consumo Imediato e superficialidade musical

A Geração Alpha, imersa em um mundo digital desde o nascimento, tem uma relação diferente com a música eletrônica em comparação com gerações anteriores.
Para eles, o acesso a conteúdo digital é imediato e contínuo, com influências que chegam por meio de vídeos curtos e tendências virais, principalmente no TikTok, YouTube e outras redes sociais.

Essa facilidade de acesso significa que eles não precisam passar pelo processo de descoberta de faixas, como as gerações passadas, que buscavam músicas, procuravam por playlists ou se aventuravam para entender qual DJ estava por trás de uma produção.

A Superficialidade da Experiência Musical

Mas será que essa nova forma de consumo está gerando uma conexão superficial com o gênero? Será que a experiência de viver a música eletrônica em sua totalidade — das raves aos álbuns conceituais — está sendo perdida em meio ao consumo acelerado de vídeos de 15 segundos?

Do underground à cultura viral: a mudança de significado da música eletrônica

A questão não é apenas sobre como a música é consumida, mas sobre o que ela representa. Antes, a música eletrônica era um símbolo de contracultura, de comunidades alternativas e de resistência criativa. Hoje, para muitos jovens, ela é apenas um som de fundo — um acessório digital para alimentar o próximo conteúdo viral.

Reflexão: a nova geração está realmente conectada com a música eletrônica?

Essa transição de significado pode estar criando um vazio.
E a pergunta que fica é: a nova geração realmente está conectada com a essência da música eletrônica ou apenas consumindo seus fragmentos visuais e virais?

Vamos explorar mais a fundo essa desconexão e entender como o EDM pode voltar a ocupar um espaço de relevância cultural entre os jovens — não apenas como trilha para vídeos curtos, mas como um movimento artístico, social e cultural que marcou gerações e pode continuar a marcar.

A influência da música eletrônica na geração Y: o início de uma revolução sonora

Antes do fenômeno EDM explodir globalmente, a Geração Y já estava pavimentando o caminho para o que viria a se tornar uma das maiores indústrias musicais do mundo. Nos anos 1990 e 2000, a música eletrônica começou a ganhar espaço fora dos clubes underground e a conquistar festivais, rádios e, posteriormente, as plataformas digitais.

O cenário global: a era da house music e do techno

A ascensão da house music em Chicago e do techno em Detroit na década de 1980 foi o ponto de partida. Para a Geração Y, esses estilos foram muito mais do que sons eletrônicos; eles representaram uma ruptura cultural, criando novos espaços de expressão e comunidades alternativas. Clubes icônicos como o Warehouse em Chicago e o Berghain em Berlim não apenas popularizaram esses gêneros, mas também redefiniram o conceito de pista de dança como um lugar de liberdade, diversidade e inclusão. Para quem quer relembrar a era de ouro do techno e house, a história do Berghain, um dos clubes mais icônicos da cena global, é um exemplo claro de como a música eletrônica moldou gerações passadas e segue influenciando a cultura clubber até hoje. Leia mais aqui.

Na Europa, o techno se consolidou como o som do futuro. Berlim, Amsterdã e Londres tornaram-se os epicentros da cena, com raves ilegais e festivais ao ar livre que atraíam multidões. Enquanto isso, nos Estados Unidos, a house music se misturava com o hip hop, o funk e o soul, criando uma sonoridade híbrida que logo se espalhou pelo mundo.

Créditos: Fabio Mergulhão (DJ Marky na Lov.e)

O impacto no Brasil: do drum’n bass ao techno

No Brasil, a chegada da música eletrônica se deu por caminhos distintos. Durante os anos 1990, o drum’n bass explodiu no cenário underground, especialmente em São Paulo, com artistas como DJ Marky e Patife, que exportaram o som brasileiro para festivais internacionais. Esse foi um marco importante, pois abriu espaço para outros subgêneros e preparou o terreno para a aceitação da música eletrônica no país.

Ao mesmo tempo, clubes como Lov.e, D-EDGE e Warung começaram a trazer artistas internacionais e a formar uma cultura clubber sólida, conectando os Millennials brasileiros ao movimento global. Foi nesse período que o progressive house e o house começaram a ganhar força, especialmente no eixo Rio-São Paulo.

Créditos: Teylor Soares (Eskimo na XXXperience)

A Cultura da Experiência: De Festivais a Comunidades Online

Para a Geração Y, a música eletrônica não era apenas um gênero musical — era um estilo de vida. O surgimento dos festivais de grande porte, como Skol Beats, XXXperience e Tribe, transformou a pista de dança em um espaço de pertencimento, conexão e catarse coletiva.

Enquanto o rock e o pop dominavam as rádios, a música eletrônica encontrou nas raves e festivais um refúgio para a experimentação sonora. A busca por sons progressivos e batidas intensas era acompanhada por uma estética visual marcante, marcada por luzes, lasers e cenários futuristas.

Essa geração também foi a primeira a testemunhar a transição da música eletrônica para o mainstream, impulsionada pelo início da era digital. Plataformas como o MySpace e SoundCloud se tornaram vitrines para DJs e produtores independentes, permitindo que sons antes restritos aos clubes chegassem a um público global.

A Consolidação da Identidade Sonora Brasileira

O Brasil, por sua vez, começou a desenvolver uma identidade própria dentro da música eletrônica. Se no início os DJs brasileiros apenas replicavam o que vinha de fora, a partir dos anos 2000, a fusão de elementos locais — como o funk carioca e o samba — com a house e o techno deu origem a uma sonoridade autêntica e inovadora.

Artistas como DJ Mau Mau, Renato Ratier e Anderson Noise foram pioneiros em criar um som eletrônico com sotaque brasileiro, abrindo caminho para a geração seguinte de produtores que transformariam o país em um dos maiores exportadores de música eletrônica da América Latina.

O papel das rádios, MP3s e do YouTube na formação musical da geração Z

Muita gente esquece, mas a Geração Z cresceu ouvindo rádios, usando pendrives e carregando os bons e velhos MP3 players no bolso. Diferente da geração atual, que já nasceu no universo dos streamings, os adolescentes da época tinham acesso à música de formas bem diferentes e era justamente assim que se aproximavam, cada vez mais, da música eletrônica.

Além disso, uma peça-chave na formação musical dessa geração foram os criadores de conteúdo do YouTube. Antes dos streamers dominarem tudo, era lá que se concentrava a atenção das crianças e adolescentes como canais de gameplay, vlogs e edições criativas onde tinham muitas faixas de músicas eletrônicas. As intros com tracks de big room, electro e principalmente o famoso progressive house (EDM) ajudaram a popularizar ainda mais o gênero.

Essas músicas se tornaram praticamente uma identidade sonora daquela época e estavam presentes nos momentos de lazer, nos jogos online, nas maratonas de vídeos, e até nos trabalhos de escola.

Créditos: Tomorrowland

A era nostálgica da geração Z

A Geração Z teve o privilégio de crescer durante a melhor fase da música eletrônica no Brasil. Grande parte desse grupo viveu a infância e adolescência entre os anos de 2010 a 2015, uma época marcada por uma forte presença do EDM no dia a dia. Foi um período em que muitos tentavam adivinhar quem produziu determinada faixa ou até mesmo a qual vertente da música eletrônica ela pertencia.

Em 2025, vivemos um verdadeiro surto coletivo de nostalgia causado pela chamada golden era do EDM, fase em que muitas das nossas melhores memórias foram construídas. Naquela época, era comum ver esses jovens sonhando em um dia viver a experiência de participar de alguma edição do Tomorrowland ou assistir a seus DJs favoritos ao vivo, em grandes shows e festivais espalhados pelo mundo. Hoje, esses jovens estão entrando ou já mergulharam na vida adulta, e a cada vez que escutam uma música dessa fase marcante, revivem momentos únicos da infância e adolescência.

Essa experiência nostálgica tem nome: memória afetiva. Muitos sentem falta daquele tempo em que a maior preocupação era cumprir os deveres escolares e tirar boas notas. As faixas dessa era despertam essa sensação de retorno aos anos mais leves da vida, onde tudo parecia mais simples.

Isso também evidencia uma grande diferença em relação à Geração Alpha, que não vivencia a música eletrônica da mesma forma. Enquanto os mais velhos tiveram uma relação profunda, emocional e coletiva com o gênero, os mais novos consomem esse universo de forma mais fragmentada, muitas vezes por meio de vídeos curtos, trends e conteúdos virais nas redes sociais. A conexão ainda existe, mas o impacto cultural já não é o mesmo e talvez nunca seja como antes. Confira as novidades do Tomorrowland Brasil 2025 e como o festival está atraindo um público cada vez mais jovem.

Créditos: RT Imagens (Laroc Club)

A Influência Duradoura da Geração Y

Hoje, enquanto a Geração Z e a Geração Alpha dominam as pistas, a Geração Y segue sendo a base da cena eletrônica. Eles foram os primeiros a experimentar a transição do vinil para os CDs e, depois, para os MP3 players. Testemunharam a ascensão dos mega festivais, a explosão do EDM e o retorno do techno às pistas.

Para esses Millennials, a música eletrônica foi mais do que uma trilha sonora — foi a trilha sonora da vida noturna, dos encontros e das descobertas que marcaram uma era.

E é essa geração que segue alimentando o circuito eletrônico brasileiro, seja produzindo, consumindo ou simplesmente dançando até o amanhecer.